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Arquitetos: Atelier do Corvo, Luisa Bebiano Arquitectura; Atelier do Corvo, Luisa Bebiano Arquitectura
- Área: 692 m²
- Ano: 2018
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Fotografias:do mal o menos
Descrição enviada pela equipe de projeto. O edifício da Cerâmica Antiga de Coimbra está situado no perímetro da classificação da Rua da Sofia e Alta da cidade de Coimbra (Portugal), inserida na lista classificada de bens de Patrimônio Mundial da Unesco. Localizado na Baixa da cidade, num terreiro medieval que se foi modificando ao longo do tempo, encontra-se numa zona onde havia cheias que inundavam o próprio edifício e zona envolvente, sendo uma antiga zona de aluvião. Os terrenos circundantes eram, até ao final do século passado, devido às características geológicas e de umidade, propícios para o fabrico do barro, matéria prima da cerâmica artesanal. Esta zona da cidade não tem ventos fortes nem nenhuma condicionante climática específica da região. As temperaturas podem oscilar entre 40° a 15° nos períodos de Verão e os 18° e os 0° no Inverno.
O edifício da Sociedade Cerâmica Antiga de Coimbra pertence a um extenso conjunto de unidades de produção de cerâmica do séc. XVIII, que existiram naquela zona da cidade, em relação com a Universidade de Coimbra. Este edifício constitui o único exemplo construído com características de época, parte de um imenso patrimônio ligado à cerâmica de Coimbra e à arqueologia industrial. Tratando-se da única unidade fabril original em laboração, a par do seu interesse exemplar da arqueologia industrial, tornou-se imperativa a sua recuperação, preservando e recontextualizando o seu patrimônio, reabilitando o edifício, dotando-o de condições museológicas para expor o seu legado em simultâneo com a laboração oficinal.
A zona de produção é feita em dois pisos: no piso térreo localiza-se a secção da olaria (cujo circuito é acompanhado da matéria prima e dos seus suportes de conservação indispensáveis) e a secção dos fornos; no 1º piso localizam-se as secções de vidragem e de pintura. À não alteração da volumetria do edifício juntou-se a opção de manter o máximo de elementos estruturais (removendo criteriosamente elementos sobrepostos, muitas vezes realocados), restaurando a maior parte do edificado e inserindo, quando necessário, novos elementos, mantendo os mesmos processos construtivos artesanais.
A tipologia dos fornos (séc. XVIII), corresponde às representações que integram os estudos de Charles Lepierre. A abordagem de carácter conservativo e de restauro assentou numa lógica da intervenção mínima, não intrusiva, permitindo a interpretação construtiva e funcional do conjunto, deixando ler as marcas da laboração. As soluções arquitetônicas sublinham a continuidade entre tempos, mas sem rupturas. Totalmente construído com paredes de pedra exteriores autoportantes, estrutura, pavimentos e paredes interiores em madeira de pinho, conta com vários elementos tradicionais como a tijoleira, o reboco e a caiação (no exterior). A estrutura do edifício foi parcialmente restaurada e recolocada. A cobertura foi totalmente refeita, dada a sua avançada degradação, mas mantendo a volumetria original do edifício.
As paredes em alvenaria de pedra foram alvo de consolidação estrutural. Foram usadas as chamadas “argamassas tradicionais”, à base de cal aérea e executado à talocha manual, para as paredes exteriores. Com uma forma irregular, devido às sucessivas transformações morfológicas deste tecido urbano, este edifício apresenta duas fachadas (a Nascente e a Poente), permitindo uma adequada ventilação natural, com pequenas aberturas. Não necessitando de qualquer ventilação mecânica, todo o edifício comporta-se de forma exemplar na sua energia passiva, tendo, como suporte de ventilação, as grandes chaminés dos antigos fornos a lenha, que funcionam como grandes canalizadores da ventilação natural quando há excesso de calor, sendo fechadas quando se quer manter uma temperatura quente (aquecida através de salamandras a lenha).